quarta-feira, novembro 15, 2006

sem lenço, sem documento

quem poderia imaginar?

é,
eu diria que essa música não condiz com o momento..
e eu entendo bem de momentos, posso dizer.
e entendo do encaixe
de um cantor chamado Aviv Gefen
que faz com que até o incenso cheire diferente.

Sem nenhuma placa pra me identificar
- me chamo Bianca, muito prazer!

e se o português está errado,
quem vai saber?
aqui não interessam os verbos, pretéritos..
é tudo presente
é tudo corda bamba de sombrinha!

E acredite, Elis,
estou continuando meu show.

enquanto isso,
lá,
onde se perdeu muito mais que apenas papéis
e números
e fotos
pra onde eu vou
e ela vai
nada disso interessa.

bon voyage,
ma petit.

e eu digo isso
pra/por
mim.

terça-feira, novembro 14, 2006

a cultura do medo

Como se já não bastasse 1984,
V de vingança,
Bush
e a bomba atômica,
o medo,
sim, ele mesmo,
sem máscara e sem vergonha,
me acompanhou a semana inteira.

até no meio das pedras
lá bem longe
e parecia que o longe só fazia acirrar.

a luz não consegue clarear a si própria.

e eu deixo de ir à praia,
perco uma nova oportunidade de saborear o mar.
e mesmo sabendo que mar tem todos os dias,
todo dia é diferente.

e sei também que numa dessas ondas
a gente pode se encontrar
(ou se perder, que nesse caso talvez fosse melhor)

a menina na praia..
eu podia sentir seu coração batendo forte
e observava
e me sentia até mal
por que eu entendia toda sua alma naquele momento
e ela estava nua,
nua e eu podia vê-la em seus mínimos detalhes.

o coração acelerado
e um frio na barriga que já sentira tantas vezes
mas agora era diferente.
ela teve medo.
sei que se não fosse isso
já teria corrido e se atirado,
mas os minutos passavam e o coração já não conseguia segurar.

a casa era longe
(o mar não)
e até chegar lá podia pensar,
mas..
pensar o quê?
no que diria
ou no que gostaria de dizer?

mas o garçon chamou,
gritou meu nome
e a Itália sorriu.
ao voltar meus olhos,
graças a deus,
ela já não estava mais lá.

e talvez eu a encontre daqui há alguns anos
num daqueles botes salva-vidas depois do navio afundar
ou em terra firme,
na montanha,
no gelo..

ela é grande
e Israel, veja bem, fica perto.

o mundo
cabe na palma da mão.

sexta-feira, novembro 10, 2006

a vida é um doce!

Mais um dia se desfez.
Podia dizer que se perdeu,
mas teria que ter se perdido em algum lugar.
E já procurei na praia,
nas dunas,
na pia dos banheiros..
não tá lá.

Ao acordar
e perceber que estava viva
já era meia noite
e mais um dia começava.
Mais uma sexta-feira
ao som de musica popular brasileira.

no céu
com caneta e papel
ia escrevendo como se cantasse junto
mas ninguém podia ouvir.

hoje até a polícia passou por aqui
e a língua española é linda
(antes não era)

as coisas mudam,
não se iludam.

quinta-feira, novembro 09, 2006

aos amigos (com V maiúsculo)

o mundo
às vezes fica mais fácil de abraçar.

quando se encaixa, vê?
e se sabe,
e se tem a plena certeza de que não vai cair,
e quando a palavra comicidade é diferente da palavra comedimento
(que lembra comida, né, Dan?)
e no fim das contas não importa mais.
o sentido
já nem faz sentido
por que Hesse disse que era pra conter,
mas não dá!

e quando vejo aqueles olhinhos brilhando,
falando alto..

sei que a roda-vida continua girando,
mas qualquer lugar que ela nos jogue
não é tão longe
nem tão fácil nem difícil de alcançar,
e a gente nunca se perde
por que o primeiro que caiu aqui
aprendeu com João e Maria a deixar migalhas
e alguns ainda tem o dom de se encaixar mais forte,
como se houvesse uma linha imaginária
mais forte que qualquer nylon
e nada quebra,
nada consegue romper.

desculpa, meus olhinhos cintilantes,
se falo mal da sociologia,
da filosofia,
das ciências, enfim..

o hoje acabou há quase três horas atrás
e mais tarde: o ultimo suspiro,
um ultimo abraço antes do próximo
e ir, sem olhar pra trás.

dessa vez,
talitasorrisopiscinavodkadormirabraçadaeempurrardacamameupedaço
saiba que fortaleceu
e foi que nem as borboletas, como havias me dito..
eu não corri atrás.

modernas tentativas de novas significações

Today. Hoy. Heute. Oggi.
A palavra hoje amanheceu diferente.

A areia ainda no cabelo,
por incrível que pareça,
deu mais disposição.

E Hesse me acompanhou a tarde inteira..
falou de contemplação, comedimento e pequenas alegrias.
Agora penso que,
não importa a ordem em que estejam,
nem o contexto,
elas sempre têm conexão.

A poesia meio que se soltou..
assim feito colagem velha de revista,
que fica sempre com uma pontinha pra fora, sabe?

É,
se fosse pra brincar de palavras agora,
eu diria que a cola é a maior inimiga da máquina de escrever
(por que não dizer do computador?)

Hoje vi gente jogando,
creio que fosse xadrez.
Enfim..
o hoje,
as formigas loucas,
(Manoel chamaria de “louquinhas, sem calça”)
tentavam pular pra fora do pote.

"Modernas tentativas de novas significações."

O que ficou do cigarro
foram as pontas jogadas na praia (até hoje),
que os séculos cuidarão de

lembrar
levar


E depois de descobrir a minha própria teoria da relatividade
e de desenvolver softwares
e novas linguagens figurativas-humanísticas-semmuitafundamentação,
depois..
(as horas não importam, já é noite!)

Hoje morri para certos conceitos
e renasci como Amélie numa lembrança,
me redescobri como a fotografia antiga dos dedos pequenos que seguravam..
bem, isso já não importa mais agora.
Derramei duas lágrimas
(Viu, Hesse? Alguma coisa aprendi!)
E o dia ainda não terminou..

Amanhã..

Bem,
amanhã
eu
apenas
amanheço.

o maior naufrágio - ouvi dizer - é nunca partir

hoje me mudei.
e depois da mudança,
um banho de mar.

pra desintoxicar,
pra renovar..

e à noite,
na rede armada na varanda,
um vinho (são bras seco - detalhes à parte)
pra brindar à uma nova vida.

o mundo continua imenso,
mas hoje
sou maior ainda.

descobri que posso ser forte
mesmo sendo frágil,
que sou completa na solidão
e na multidão.
que as regras não se aplicam a mim
por que eu não sou um conceito.
e tenho anjos da guarda
e agora das águas.

meus amigos são minha fortaleza,
são os tijolos do meu castelo,
construído em base sólida e feliz,
meu castelo medieval,
e estão comigo o tempo inteiro.

no pôr-do-sol,
sempre fico em silencio.
e cada rajada de vento é como se fosse um deles me abraçando.
então sorrio.
e não é só a boca que sorri.
aprendi a sorrir com o corpo inteiro.



aos vinte

Sabe o que é chorar vendo um musical infantil?
Sabe o que é chorar no momento em que eles começam a cantar "Lua de cristal"?
Eu não sabia.
A infância..
Essa frustração corrosiva e incurável de toda humanidade..
esse desejo imenso, cruel, egoísta, infinito de voltar ao lar!
E poder..
ver as velhas borboletas de cristal dos meus poemas, catar vaga-lumes, pôr em garrafas de plástico, pegar bicho-de-pé!
Mas nada de inocência não..
ignorância mesmo.
Da vida.
Da morte.
A liberdade que só o não-saber consegue te dar.
Mas eu sei.
E os sonhos, e o nó-na-garganta quando olho o pula-pula e não posso pular!
Isso é só uma metáfora.
Por que tem muito, muito mais além disso.
Pedaços que faltam em mim e que não se pode recuperar.
Por que não foram perdidos.
Foram desmaterializados.
E a infância, a parte dela que ainda vive em mim, com 20 anos (apenas, veja bem!) querem que eu mate.
Pois posso fazer sumir.
Posso trancar e perder a chave.
Posso não vê-la novamente..
mas matar, nunca.
seria suicídio.