segunda-feira, janeiro 15, 2007

O outro lado do espelho

Há uma semana
as núvens não deixam o sol aparecer
para apresentar seu show mais sublime.

Tudo nublado, Clara,
tudo!

Mas agora entendo o poder da união,
de um tipo mais humano de sociedade.
De acreditar
mesmo sem olhar diretamente nos olhos
- no final, eles acabam amolecendo também,
mesmo os mais impacientes.

Chamamos de outro lado do espelho
aquela realidade que não é possível explicar com palavras.
Nem mesmo a poesia é capaz,
nem ela!

É como dizer:
- Olha lá o mar, não é fantástico?
E ela concorda balançando a cabeça
e nem sequer nota o horizonte..

Mas quando se desprende das roupas do corpo
e da sensação de frio..
"Ah, Thomas, que idéia querer mergulhar a essa hora, não há mais sol!"
e ela chega até a linha de onde só se pode ver formiguinhas guiadas pelo doce, pelo céu.
Ali já não há mais ondas
e algumas estrelas já começam a discutir a moral e se desnudar.

Ela acaba de transpassá-lo.
e que espelho!

Nota que o silêncio ali
é razão também da perda dos sentidos, Léo?
O corpo não é mais nada além de um receptor
que envia as mensagens nunca antes captadas pra dentro,
- seja qual nome ela tenha agora -
já o nome não importa, nem os pêlos.

nem os pê-los.

alguém que está escondida por baixo das rugas,
do pó,
não é a mesma que volta da água
e se deita na areia pra retornar,
fazer a passagem.

entre as núvens escuras
fez-se uma janela
de onde o sol apareceu, por poucos instantes
pra depois adormecer,
enfim.

até as núvens
atendem as preces dos homens
que sabem pedir à Iemanjá.